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Curadorias em rede: No tempo da Espera


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Ficha técnica: Livro-brinquedo-objeto, 2020 Mara Perpétua Recorte, colagem e desenho em papelão Série com 11 objetos Dimensões variáveis

No tempo da espera

texto curatorial por Lindomberto Ferreira Alves


Espera: “o que fazer nesse interstício temporal, nesse intervalo onde o ‘antes’ se mostra intolerável e o ‘depois’ se mostra imprevisível?” (MACHADO, 2010, p.53). Hoje, sabemos bem, ainda que intuitivamente, que há uma linha tênue que distingue o ter que do querer esperar. Se a experiência compulsória do tempo da espera nos coloca diante de um presente que só se faz do antes ou de um passado perdido que insiste em não passar; a experiência desejosa do tempo da espera nos desvincula da espera do provável ou da ficção do irreal, abrindo-nos à criação de possíveis em imanência com a vida.


Em todo caso, a espera nunca é confortável. O tempo da espera é feito de conflitos, cujos incessantes embates demarcam justamente o tempo das subjetivações à flor da pele – que podem nos conduzir tanto à potência de padecer quanto à de agir. E para que a espera se desdobre em potência de agir é preciso que não deixemos escapar o próprio presente. Uma vez que é no corpo a corpo com ele, que o tempo da espera afirma a vida como força criadora, desobstrui a dimensão estética da subjetividade e, também, evidencia nossa participação na construção da existência no agora.


É desse corpo a corpo que emerge Livro-brinquedo-objeto (2020), da artista e professora Mara Perpétua. Tratam-se de 11 dispositivos objetuais, em criação desde janeiro de 2020, cuja produção foi intensificada em virtude da quarentena provocada pela pandemia do novo coronavírus. Entre imagem e poesia, recortes, colagens e desenhos aferem e fabulam, nas minúcias, a repetição, a geometria e a angulação das paisagens. Essas mesmas paisagens que, hoje, vistas pelas janelas, ganham novas nuances em tempos de refreamento da experiência corporificada com a cidade. Se a nós, a manipulação desses trabalhos, por hora, não é possível, fica o convite para que possamos, através desta janela, degustar, ao nosso próprio sabor, devaneios para um respiro nesse tempo de espera.


Referência:


MACHADO, Leila Aparecida Domingues. À flor da pele: subjetividade, clínica e cinema no contemporâneo. Porto Alegre: Sulina, 2010.



Processos curatoriais


Essa exposição acontece como parte da ação Curadoria em rede, realizada pela Plataforma de Curadoria. Conheça mais sobre o processo dessa curadoria.


Para pensar o tempo entre, Lindomberto Ferreira Alves, curador da exposição No tempo da espera, evoca produções recentes da artista Mara Perpétua. Trata-se da série Livro-brinquedo-objeto, iniciada em janeiro de 2020, intensificada em virtude da quarentena provocada pela COVID-19.


Mara Perpétua é Bacharel em Artes Plásticas (1990), Licenciada em Educação Artística (1998) e Pós-Graduada em Abordagens Contemporânea em Arte Educação (2002), pelo Centro de Arte (UFES). Participou das exposições Papel do Acervo (2014), Vitória em Arte - Edição 11ª SESC (2015), Entre Eu, Tu e Elas (2017). Além de artista, é professora no ensino público formal (PMV/ES), âmbito no qual coordena o Espaço de Arte Projeto Atelier – uma iniciativa independente que há 10 anos oferece às crianças e aos adolescentes do EMEF-SVP/ES atividades em arte-educação no contraturno escolar. Nesse percurso, Mara Perpétua também atuou como ilustradora, curadora, bem como construiu uma sólida trajetória como arte-educadora, desenvolvendo projetos educativos para importantes exposições e instituições de cultura do Espírito Santo.


Em 2020, Mara completa 30 anos de produção silenciosa e impactante. Nela, o desenho é agenciado a diferentes linguagens, quase sempre inquirindo a dimensão do efêmero como instância que conduz à construção de sua poética. No contexto atual, a artista constrói dispositivos objetuais que existem como acontecimentos no tempo entre uma coisa que está por vir e que foi.


Na visão da artista e do curador, “estes trabalhos perscrutam as possibilidades da arte se manifestar em tempos de espera e de virtualidade, bem como seus impactos nos processos de criação, produção e circulação do saber-fazer artístico na atualidade”.


Segundo a artista, foi “contemplando essa cidade que iniciei uma série de recortes e

colagens, recolhido dos descartes anônimos. Os cortes de papelão, em diferentes

gramaturas, imprimem a repetição, a geometria e a angulação, tal qual se vê pela

janela”. Foi com palavras, formas e colagens para o jogo lúdico, em criações bi ao

tridimensional, empilhando a matéria e as lâminas móveis, como páginas, que Mara

buscou “um olhar em sequência com entradas sem saídas – como paisagens

labirínticas – a serem manipuladas e degustadas como imagem/poesia, devaneio para

um respiro nesse tempo”.


Acessar a esses registros é como se debruçar sobre as janelas de Mara. A curadoria aqui nos propõe uma mediação para inquietações da artista sobre o tempo presente. A artista indaga: “Uma janela estranha, um tempo que se arrasta lento. Silêncio, a cidade adormece?”


Crédito das imagens e do vídeo:

Imagem 1: Fotografia acima por Luara Monteiro & Fotografia abaixo por Daniel Banhos.

Imagens 2, 3, 4, 5, 6 e 7: Fotografia por Daniel Banhos.

Vídeo: Direção: Mara Perpétua

Produção e imagens: Daniel Alves

Edição: Luara Monteiro

Vila Velha (ES) - Santa Inês,10 de abril de 2020.

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