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No limbo das atenções: A produção fotográfica de Cao Guimarães entre o visto e o não visto

sobre a dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Artes da UFES, sob orientação da Profa. Dra. Almerinda da Silva Lopes.


por Lília Pessanha


Crescendo entre as luzes vermelhas e o forte aroma de produtos químicos como reveladores e fixadores, figuras constantes nos ambientes analógicos fotográficos, Cao Guimarães se autodenomina como um “homem da imagem”, vindo a transitar com enorme fluidez entre os tempos referentes aos grãos de prata e os tempos atuais dos pixels imagéticos.


O artista visual, cineasta e fotógrafo Claudio Gontijo Guimarães, comumente conhecido como Cao Guimarães (1965-), nasceu em Belo Horizonte. Ao longo de sua infância viveu no interior de Minas Gerais com seu avô, Cisalpino Gontijo e, anos depois, retornou para sua cidade natal. Nos dias atuais, administra sua vida entre a capital mineira e a capital uruguaiana, Montevidéu, por questões pessoais.

Curiosamente podemos identificar compatibilidades entre as três cidades que nos servem como indicações para melhor entendermos o artista e seu modo de viver e trabalhar. O interior mineiro, com sua cotidianidade e costumes tradicionais e, em paralelo, sua vivência com o avô vieram a ter grande influência nos trabalhos de Guimarães. Por sua vez, Belo Horizonte, embora seja uma das capitais da região sudeste de maior visibilidade, consegue preservar sua admirável hospitalidade, as relações sinceras para com o próximo e os laços de amizades de infância. Enquanto que o Uruguai, podemos intuir, por meio de seu dado demográfico – poucos habitantes –, certa tranquilidade e uma passagem de tempo mais vagarosa.

Histórias do Não-Ver, Cao Guimarães, 1996-2001
Histórias do Não-Ver, Cao Guimarães, 1996-2001

Considerado um dos artistas mais prolíficos da atualidade, suas obras são crescentemente apresentadas em análises visuais no que tange a fotografia contemporânea brasileira. Por lidar de modo privilegiado com o que pode ser chamado de “experiência sensível”, extrai poesia de toda e qualquer realidade, algo visível em seus filmes de curta e longa metragens, fotografias e instalações.


Contudo, a menção aos seus trabalhos nas pesquisas acadêmicas, em sua maior parte se volta para o campo cinematográfico e, quando se trata das fotografias, se dá de modo fragmentado, nas quais suas séries são abordadas de forma pontual. Dessa maneira, identificamos poucos estudos específicos que se aprofundem no conjunto de obras fotográficas do artista. A presente pesquisa busca auxiliar no preenchimento desta lacuna, no objetivo de contribuir para a valorização nos estudos visuais acerca dos fotógrafos brasileiros da contemporaneidade.


Em momentos analíticos oportunos, se fez necessário entrevistas realizadas por mim com o próprio artista em sua residência, em Belo Horizonte/MG, nos meses de fevereiro e novembro de 2019. A primeira entrevista foi fundamental para uma pesquisa primária a seu respeito e melhor conhecimento de suas obras. A segunda entrevista centrou-se nos trabalhos não tão acessíveis como os trabalhos realizados nos anos 1980 e 1990, obtenção de fotografias, matérias de jornais, catálogos de exposições referentes ao período em questão. Em seguida, a conversa pautou-se nas motivações e métodos associativos realizados nos trabalhos mais recentes do artista.

Ex-Votos, Cao Guimarães; Fábio Cançado, Rivane Neuenschwander, 1993-1994.
Gambiarras, Cao Guimarães, 2000-.

Meu interesse em aprofundar os estudos sobre o fotógrafo nasceu a partir do desejo inicial pela série Histórias do Não-Ver (1996-2001). Contudo, alterações se fizeram necessárias com o amadurecer da pesquisa se preservando apenas a hipótese levantada desde o princípio. Em outras palavras, o objetivo do estudo sofreu transformações para que a hipótese pudesse estar em coerência com a pesquisa. A problemática: a série Histórias do Não-Ver pode ser considerada um ponto de inflexão na produção do artista Cao Guimarães? Se sim, como esta obra se tornou um marco divisor na sua produção artística?


A proposta desta pesquisa é conduzir um estudo crítico em torno dos trabalhos fotográficos do artista mineiro Cao Guimarães. Pretende-se uma investigação que se desenvolve não somente à luz do conceito e suas motivações e métodos de trabalho, mas também em outras instâncias estimuladas no processo perceptivo e analítico da pesquisadora em concomitância com as visualidades evocadas na obra do artista.

 

A dissertação NO LIMBO DAS ATENÇÕES: A produção fotográfica de Cao Guimarães entre o visto e o não visto de Lília Marcia de Sousa Pessanha está disponível na íntegra no site do Programa de Pós-graduação em Artes do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo.



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