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Preza!: contextualização e relato

Por Juliane dos Santos Mangifesti*


Figura 1: Entrada da GAEU.

A exposição PREZA! realizada na Galeria de Arte Espaço Universitário (GAEU), localizada próximo ao Teatro Universitário da UFES, foi inaugurada do dia 14 de setembro e prorrogada até o dia 16 de dezembro devido ao enorme número de visitações recebidas. Foram selecionados 14 artistas capixabas com variadas produções de arte urbana, tais como graffitis, colagens, vídeos, esculturas e pinturas. As produções escolhidas para compor essa experiência da arte de rua dentro do espaço universitário, foram as dos expositores Abstrato no Concreto, Alex, Basi, Ficore, Ronaldo Gentil, Iranubs, João Oliveira (vídeo-documentário A febre), Keka Florêncio, Lu Bicalho, Made in China, Moska, Renato Ren, Starley Bonfim e Tira.


A curadoria foi realizada pelo professor Waldir Barreto e pelos co-curadores Ficore Kalic e Renato Ren. Segundo o texto curatorial de Barreto, não se trata de uma “ex-posição”, mas sim de uma “in-posição”, na tentativa de criar um vínculo entre a arte de rua e o espaço acadêmico.


Acredito que o texto curatorial do professor Waldir Barreto foi muito enriquecedor para quem já faz parte do meio acadêmico, entretanto, penso que se parte do vocabulário utilizado no texto fosse mais simples, ele se tornaria mais “acessível” a quem não possui um amplo conhecimento da arte contemporânea.


Figura 2: Vista geral da exposição Preza!

Durante os diversos debates realizados dentro do espaço expositivo, os visitantes são convidados a refletir sobre a marginalização que as manifestações artísticas sofrem no meio urbano. Além disso, é possível relacionar a educação com a estética de rua, como foi realizado no debate das professoras Adriana Magro e Maira Pego, apontando a importância de ver essas obras por outro ângulo e permitir que os indivíduos ingressantes da universidade (que antes possuíam as ruas como seu único espaço de empoderamento e liberdade artística), se sintam acolhidos pelo meio educacional.


Um dos principais motivos que me levou a escolher “PREZA!” para escrever o relato, foi a conexão que senti com algumas das obras expostas, as experiências que adquiri ao longo das mais de 4 visitas em contextos diferentes do meu cotidiano e também a forma com a qual foi realizada a curadoria, que ao meu ver se distancia do modelo expositivo “Cubo Branco”.


Figura 3: Vista geral da exposição Preza!

Os primeiros trabalhos começam já do lado de fora da GAEU, gerando imersão e aflorando o olhar dos visitantes. Nota-se uma harmonia entre todas as obras ainda que possuam técnicas e formatos distintos. Além disso, o espaço se mostra flexível, permitindo que o observador transite por cada trabalho na ordem que desejar. O espaçamento de uma arte para a outra varia, ora sendo de aproximadamente 1 a 2 metros, ora sendo uma linha tênue de uma parede para a outra, e ora não havendo espaçamento algum, como se um trabalho fizesse parte do outro.


Figura 4: vista frontal de Submundo, Iranubs; à esquerda, vista parcial de Calma de Lu Bichalho.

Poderia falar de muitas obras que me trouxeram reflexão durante minhas visitas, mas a primeira e que mais me marcou, foi Submundo da dupla de artistas Iranubs, composto por Maik e Iran. Em uma interpretação pessoal, tantos elementos me trazem uma inquietação nos olhos, como um grande pesadelo vivo, repleto de pistas de que aquilo não é a realidade. Ao mesmo tempo, a obra fala diretamente sobre os problemas do mundo moderno e uma crítica a desigualdade social.


Submundo tem algumas características marcantes em sua composição, sendo uma delas a ocupação de um pedaço do teto e a conexão com o trabalho Calma de Lu Bichalho (à esquerda na imagem acima). Outra observação interessante é o nome do grupo escrito e escondido dentro do cenário como uma espécie de easter egg¹. A paisagem possui cores fortes que retratam a noite em um ambiente caótico. O tema da obra se relaciona diretamente com a proposta curatorial ao mostrar a dificuldade de viver em um local marginalizado. Um exemplo disso, é a tentativa do garoto de pescar em um local poluído, com uma infraestrutura precária ao seu redor.


Figura 5: Visita dos estudantes de ensino médio à exposição.

Em uma de minhas outras visitas à exposição, fui com o papel de monitora de um projeto de artes do colégio Almirante Barroso. Meu papel de orientá-los junto à coordenadora do projeto, me permitiu observá-los e ter sua percepção. Pude ver a importância daquele momento para eles como alunos do ensino médio de uma escola pública, ao ver parte de seu cotidiano em diversos trabalhos.


Por fim, deixo minha “Preza” para que mais artistas do meio urbano sejam vistos, respeitados e integrados dentro da Universidade em outras exposições e intervenções artísticas como esta.


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¹ “Easter eggs são uma expressão bastante usada no mundo dos games, filmes e tecnologia para descrever uma referência ou algo que está escondido dentro de uma mídia. Geralmente, o autor do mistério dá pistas para que outras pessoas encontrem aquela coisa mantida em segredo” (Canaltech, 2021).

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* Juliane dos Santos Mangifesti é estudante do Bacharelado em Artes Plásticas na Ufes.

Este texto foi desenvolvido na disciplina Práticas curatoriais, história(s) de exposições, ministrada pela Profa. Ananda Carvalho.



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