Relato por Flávia Dalla Bernardina
A conversa sobre curadoria com Juliana Gontijo fez parte da programação do Projeto de
Extensão “Processos de Criação em Curadoria”, do DAV-UFES, coordenado pela Prof.
Ananda Carvalho e pelo Prof. Daniel Hora. O encontro ocorreu em 24 de Setembro de 2019,
às 10h, no Auditório do Cemuni IV, na Universidade Federal do Espírito Santo. No encontro,
a curadora e professora da Universidade do Sul da Bahia – UFSB - apresentou os projetos
curatoriais que participou, bem como sobre as relações que se estabelecem entre a
curadoria e sua experiência na universidade.
Juliana Gontijo iniciou sua fala sobre a curadoria como processo de pesquisa, elaboração e
colaboração com outros curadores. O primeiro projeto que apresentou foi o da Bienal Sur,
Dura Lex Sed Lex, realizado em Rosario, Argentina, de 2 de Setembro a 21 de Outubro de
2017, em que compartilhou a curadoria com Raphael Fonseca. A exposição englobou obras
históricas em conjunto com produções de jovens artistas da América do Sul e Central.
Das obras apresentadas no projeto, a curadora apontou para questões da arte que
funcionam como uma espécie de autorização para o cometimento de violações no campo
social. Citou como exemplo o coletivo 3Nós3, que colocou sacos plásticos nas cabeças de
estátuas em São Paulo (1979), Cildo Meirelles e a obra Ocasião (1974-2004), a obra El
Prestamo (2000) de Anibal Lopez, que assaltou uma pessoa de classe média para financiar
uma exposição de arte e a obra Nulo (2010-2013) do artista chileno Rodrigo Moya, que se
apropriou e interveio em cédulas de votação nulas.
El Prestamo Anibal Lopez, 2000 Bienal Sur - Dura Lex Sed Lex, 2017 Disponível em <https://juligontijo.wordpress.com/> Acesso em fev. 2020.
Em seguida apresentou o projeto editorial, Ediciones Portunhol, que abordou a curadoria
por outros vieses. A partir da ideia de fanzines, a proposta foi mover uma espécie de
coleção que crie uma rede, através de uma seleção de artistas e teóricos que alternavam a
língua espanhola e a portuguesa nos cadernos de referência, textos teóricos e livros de
artistas. Propôs a reivindicação do portunhol como zona comum, como princípio aglutinador
que viabiliza a circulação de pensamento e da produção artística no continente.
Sem direcionamento temático para os textos, Juliana Gontijo reconheceu que deveríamos
incorporar nessa ‘interlíngua’ também o guarani, o mapuche, o creol, o iorubá e tantos
outros. “Ler, escutar, escrever e falar a América Latina no seu idioma fantasiado é refletir
sobre a direção que queremos reinventar nossa cultura e nosso lugar no mundo”, afirmou a
curadora.
Outro projeto citado foi Conversations in Gondwana, que fazia alusão ao super continente
que há 200 milhões de anos atrás reunia os continentes da África, América do Sul. Esse
projeto propunha colocar em contato a história e realidade de países dessas regiões por meio da troca de correspondência entre artistas, num total de 6 (seis) duplas, que
materializaram os diálogos e experimentações, em uma publicação e website.
Em um trabalho compartilhado com Juliana Caffé, a curadora apontou que a estratégia foi
reestabelecer o contato Sul-Sul sem a mediação do Norte. A exposição do projeto no Centro Cultural São Paulo – CCSP - teve sua abertura em 7 de Fevereiro de 2019, com visitação aberta até 7 de abril do mesmo ano. Enquanto desdobramento do projeto principal que contava inicialmente com a publicação, a exposição veio como meio de concretizar esse encontro, relatou Juliana Gontijo.
Os artistas produziram obras individuais e coletivas. No projeto expográfico, as obras
gravitavam ao redor de espaços de convivência com tapetes e pufs, onde as pessoas tinham
liberdade para estar e se mover no ambiente.
Conversations in Gondwanda CCSP – Centro Cultural São Paulo, 2019 Disponível em <https://juligontijo.wordpress.com/> Acesso em fev. 2020.
Para apresentar o projeto de curadoria colaborativa Exercícios de Espaço, corpos, objetos,
sonoridades, realizada com estudantes artistas da Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB - em 15 de Julho de 2019, Juliana Gontijo explicou a estrutura curricular da UFSB. O
calendário anual da graduação conta com 3 (três) quadrimestres em sua grade, com divisão
dos temas de estudo em componentes curriculares e não disciplinas, abrindo caminhos,
segundo a curadora, para um processo decolonial da educação.
A partir das demandas diversas na Universidade, como por exemplo, os alunos terem
espaço para exibir seus trabalhos, a proposta da exposição era de não emular ou simular o
cubo branco, mas aproveitar as contingência e circunstâncias para viabilizar a sua
realização.
Exercícios de Espaço, corpos, objetos, sonoridades Universidade Federal do Sul da Bahia, 2019 Disponível em <https://www.instagram.com/juli_gontijo/> Acesso em fev. 2020.
A convocatória da exposição se subdividiu em duas frentes: uma para a equipe de curadoria
e outro para os artistas, ampliando o campo de atuação dos estudantes, enquanto sujeitos
da sua trajetória. Pontua também sobre a ocupação não tradicional do espaço e sobre pensar, através da curadoria e do fazer artístico, em novas formas de instalar e expor as
obras.
A curadora finalizou sua apresentação com o projeto Artista-Visita, ocorrido no Centro de
Formação em Arte da UFSB, Campus Porto Seguro, de 1 a 8 de Novembro de 2018. O
projeto de extensão envolveu a fala pública dos artistas Ismail Farouk (África do Sul) e Paulo
Nazareth (Brasil). Buscou o fortalecimento entre a produção artística contemporânea e a
academia. Nesse contexto, além da fala dos artistas foram desenvolvidas atividades junto
aos estudantes, bem como visitas de artistas à Universidade.
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